Iniciar-se algo é um ato de esperança e fé. Prosseguir, agir e reagir, também. Fé nas possibilidades, e esperança na realização e nos bons resultados do porvir, apesar das incertezas da vida.

Daí, para estrear neste blog que também se inicia, quero falar, ou escrever, de fé e esperança – até porque, de qualquer jeito, fé e esperança têm de ser, sempre e a todo tempo, cultivadas.

Não numa perspectiva de espera alienada ou polianesca, mas porque, mesmo para indignar-se com o que deve ser mudado, é preciso fé e esperança, lúcidas e conscientes, no poder e na possibilidade de mudar, apesar das dificuldades. Empenho, esforço, desgaste, luta… também fazem parte, claro.

Em tudo que se faça, da mais singela opção individual diária aos maiores arrojos da humanidade, em algum momento, foram e são a fé e a esperança que fazem prosseguir numa ideia, num projeto e, assim, em toda a existência.

Levantar-se da cama todas as manhãs ou, muito bom, depois de um descanso na rede da praia, no fundo no fundo, é um ato de fé e esperança de que há algo a ser feito, que pode ser feito e que vale a pena ser feito. O simples escolher um prato num restaurante, ainda que se tenha referências prévias, requer fé no “chef”, além da esperança, incerta, de que deliciosas experiências sensoriais se aproximam, ou, no mínimo, que não se esteja a caminho de uma infecção alimentar.

Também, escolher uma vida a dois ou a solteirice, ter ou não filhos. Decidir por uma carreira profissional e tudo o mais.

Num salto a outro extremo, os grandes navegadores que primeiro cruzaram os oceanos tinham algumas poucas informações sobre o que haveria pela frente, um número muito maior de incertezas e temores, e grandes quantidades de fé e esperança. Imaginem, não tinham sequer um celular para ligar para casa, se batesse a saudade!

Os exploradores do espaço, já talvez um pouco mais esclarecida a humanidade, foram amparados por toda uma base de estudos científicos, cálculos e projeções, mas, lançar um foguete aos espaço -e muito mais estar dentro dele!- foi um ato de fé no conhecimento científico, no acerto dos cálculos e das projeções, e tudo com muita esperança de que a coisa toda desse certo.

Está bem. Dito o óbvio. E daí?

E daí que, em primeiro lugar, um saudoso professor dos tempos da UFRGS sempre nos lembrava que “o óbvio deve ser dito”. É que o óbvio por vezes varia de um para o outro; por vezes é tão solenemente ignorado que tem de ser lembrado; por vezes, apesar de óbvio, parece tão difícil de acreditar que tem de ser reafirmado…

E penso que estamos neste quadro. Estamos sendo constante e intensamente atingidos por enxurradas de notícias e informações trágicas sobre corrupção e fraudes políticas, crise econômica, insegurança, atos de barbárie e atrocidade cometidos ao nosso redor, quando não contra nós mesmos, e tudo o mais que cada qual poderia aqui acrescentar. Acontecimentos surreais por vezes.

Assim, o que não pode acontecer é que nos deixemos superar pela ideia, muito conveniente por sinal aos que querem deixar tudo como está, de que não tem jeito, não tem solução. Temos de manter a capacidade de indignação, que é diferente de apenas andar a queixar-se das coisas. E sem cultivar a esperança perde-se a capacidade de indignação.

Afinal, indignar-se por que, se sempre foi assim? Se não há esperança e, portanto, a indignação nunca poderia passar da frustração?

Não, a indignação manifestada civilizadamente, mas de modo firme e intenso, sempre se fez e se faz ouvir. Seja nos protestos nas ruas, seja em denúncias nos órgãos públicos, seja pela imprensa. Seja nas urnas. Seja na conduta de cada um que, no seu dia a dia não cultue, não engrandeça, não aplauda ou não bajule exatamente aqueles cujo agir mais gera a indignação, seja em que esfera e por que razões for.

Como já foi dito, não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons, que mais preocupa.

Também por isso, na vida, “no mundo além dos autos” – e nos autos sabe-se a parcela que ao magistrado, jurisdicionalmente, também toca de responsabilidade na construção de dias melhores – não podemos esquecer de cultivar a fé e a esperança.

Também por que a vida pode ser melhor assim, para iniciar, fé e esperança.

No aguardo de algum leitor, cuja leitura confirme a esperança.

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