Acredito que nunca, ao menos nas eleições dos últimos 30 anos, do pós 1985, o processo eleitoral foi tão radical e visceralmente determinante para a definição dos rumos da nação. Daí, nunca foi tão radical e visceralmente necessário que cada cidadão exerça válida e conscientemente seu voto nas eleições que já estão chegando.
Isso justamente num momento em que, também como nunca, se percebe eleitores manifestando fanatismos ou indiferenças, adorações ou repulsas por candidatos, de modo quase vazio, apenas no repetir de frases feitas. Outros que dizem querer realizar um voto apenas de protesto. Outros dizendo de seu desinteresse ou inutilidade do ato de vota, considerando as poções de voto.
É o produto de frustrações e desencantos generalizados com os resultados e práticas daquilo que deveria ser a política nacional. E também, especialmente, parece resultar da dificuldade dos eleitores de vislumbrar, entre candidatas e candidatos, algo ou alguém que considerem representar minimamente seus conceitos de vida e de sociedade.
Muitas pessoas, pessoas demais, dizem que não vêem porque votar ou que pensam em anular voto, notadamente se forem tais ou quais os candidatos em um provável segundo turno das eleições presidenciais que se avizinham.
Já vivemos tempos de grandes expectativas e ânimo para as eleições. Quando era fácil encontrar, nos mais variados grupos, aprofundadas conversas acerca de política, candidatos e intenções de votos nas quais eram mencionados e debatidos projetos concretos e histórias de vida e realizações daqueles que pretendiam os cargos eletivos.
Debatiam-se posições ou visões diferentes, ora mais extremadas ora mais moderadas, mas como ponto determinante se vislumbravam projetos e aspirações delineadas e a dúvida era acerca de qual candidato melhor ou mais aproximadamente poderia concretizá-las.
Agora, tendo sido frustradas na política tantas das expectativas antes lançadas, e tendo sido expostas como jamais na crônica policial as indecências pessoais, partidárias e institucionalizadas havidas no país, parece restar apenas radicalismos (com as mais variadas cores) e fisiologismos, tudo a afastar do voto muitos cidadãos.
Porém, é justamente este quadro que nos exige o esforço, talvez mesmo o “estomago”, para revisitar os fatos passados e para acompanhar detidamente os eventos dos próximos 2 meses para bem votar, da melhor maneira possível.
Como cidadão e eleitor, posso considerar que o estado extremo das coisas exija posturas radicais, e com facilidade dar meu voto a um ou outro extremo, conforme minhas convicções. Posso também pensar que algo mais moderado seja preferível.
Em qualquer caso, posso ter dificuldades de encontrar em quem votar por desconfiar do compromisso com as propostas e as promessas, ou não crer na honestidade dos candidatos etc.
Posso aderir às idéias da renovação total, de não reeleger ninguém, escolhendo apenas candidatos inéditos para qualquer dos cargos em votação nos poderes executivo e legislativo federal e estadual. Também posso identificar cuidadosamente quem valha a pena ser reeleito, se assim entender.
O fato é que a grave situação que se vive exige, mais do que nunca, que cada cidadão defina, dentro daquilo “que a casa oferece”, qual o seu melhor caminho, ou, no mínimo, qual seu caminho menos pior, se assim considerar.
Mas deixar de votar, votos de protesto ou anular voto não é um caminho.
Anular voto é anular a si próprio, apenas isso.
E não parece razoável que entre todos os candidatos, ou entre dois candidatos, por mais que qualquer um deles seja diverso daquilo que se gostaria, não haja critérios suficientes para definir o voto entre um ou outro conforme mais se aproxime, ou menos se distancie, de nossos ideais.
E como já foi divulgado, simplesmente uma multidão “votar nulo” nem mesmo anula a eleição, anula, apenas, a oportunidade de participação.
Meros votos nulos não anulam as eleições, como alguns pretenderiam (se é que anular eleição fosse uma boa coisa, o que penso que não seja).
Aliás, felizmente estamos chegando às eleições, coisa de que muitos até mesmo duvidavam há pouco mais de um ano atrás.
Assim, o que nos cabe é votar com todo empenho, a não ser que acreditemos que a ideia de liberdade, decisão e realização pessoal não passe da ilusão de escolher o aparelho de telefonia celular a comprar ou o tipo de refrigerante a beber.
Guilherme Beltrami
Cidadão, Eleitor e Juiz Federal.
Lademiro
Parabéns Guilherme. Muito boa a reflexão.
Marra De Carli Fichtner
Lucidez! Consciência, integridade!
valores insubstituíveis… necessários.
E tão bem expressados nestas poucas linhas…
Admirável expressão de cidadania, civilidade.
Obrigada!