Em meados de 2018 (28.6.18) recebi um “whats” do Vinícius Brum. Dizia que tinha lido o livro Por que os ponchos são negros, de minha autoria, e, tendo se deparado com um poema nas páginas 158 e 159, se atrevera a milongueá-lo. Perguntava se podia gravar e me mandar. Respondi imediatamente que sim, e que aguardava ansioso para ver o resultado.
Os meses passaram, e nada de vir a gravação. Em fins de janeiro de 2019 (28.1.19) resolvi intimá-lo, e ele disse que estava enrolado com a tese de mestrado, mas que logo me enviaria a gravação. Finalmente, em 02 de fevereiro, veio. Gostei. Nos dias seguintes, fiz algumas adequações na letra, para harmonizar melhor com a melodia, e ele fez uma nova gravação já mais recheada de instrumentos e me mandou.
Então, em 07 de fevereiro de 2019, sempre por “whats ‘, ele sugeriu: Que achas de fazermos mais algumas sobre o insondável da noite e do escuro para um projeto futuro?
A ideia estava lançada.
Em 14 de fevereiro mandei a letra de Paradeiro. Em 28 do mesmo mês ele me remeteu a música. Desde então, durante o ano, foram sendo feitas e remetidas as letras, que foram sendo musicadas mais ou menos na ordem em que recebidas. Poucas sofreram ajustes depois do primeiro encontro de letra e música; para a maioria, a primeira forma foi definitiva. A ordem da remessa foi: Paradeiro, Fábula, Mitologia dos ponchos, Ventos e fantasmas, A história do fogo, Sul, A história do sal, O fazedor de vidro, Inverno e A rosa do manantial.
Finalmente, em 23 de dezembro de 2019, nos encontramos pessoalmente. Trabalhamos algumas questões letra-música e definimos os passos seguintes do projeto. Decidimos incluir no álbum uma parceria solitária que havíamos tido nos remotos anos noventa: Lusitana.
O ano de 2020 foi de preparação de arranjos e gravações em estúdio, do que o Vinícius se encarregou. A pandemia dificultou um pouco o andamento das coisas, mas, feita a arte e a edição de um número limitado de CDs durante o primeiro semestre de 2021, agora, no segundo, vem o trabalho à luz.
Sobre as letras, vale uma rápida digressão histórica.
Nos anos oitenta, início dos noventa, tive alguma participação nos festivais de música nativista do estado. Depois me afastei totalmente da música. Por gosto e para guardar a linguagem literária (já que minha profissão, que exige textos técnicos, fatalmente me imporia vícios difíceis de abandonar), mantive o hábito, ainda que esporádico e sazonal, de fazer poemas, especialmente sonetos.
Eis a regra de origem das letras: foi a este depósito de versos e ideias que recorri quando decidimos realizar uma parceria musical.
O próprio original do poema Por que os ponchos são negros data dos anos oitenta (10.05.1985). Quando estava escrevendo o livro de mesmo nome (2008 e 2009), veio a ideia de incluí-lo na história. Não poderia imaginar que dez anos depois ele seria garimpado pelo Vinícius para dar início à nossa parceria.
Há duas exceções à regra de origem: Lusitana, que já foi concebida como letra de música pra festival nativista (anos noventa), e A rosa do manantial, a última das letras a ser enviada pra musicar (19.11.2019).
As outras nove letras cumprem a regra: são derivadas de poemas anteriores. Todas sofreram transformações significativas, algumas tornadas “obra nova” (mudanças de forma, de linguagem, de mensagem), outras apenas adequadas a uma métrica e linguagem que facilitassem a musicalização. A única que se manteve intacta é Sul, um soneto de 14.02.1996 que levava o pomposo título Dialética Sulina.
Aqui vai Mitologia dos Ponchos, uma amostra da nossa parceria.
Alea jacta est!
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