Ficha Técnica:
Autor: Marcelino Tabajara Gutierrez Ruas, Besouro Box, 1ª Edição, Porto Alegre, 2015;
“Thriller” em forma de conto, lutas políticas no RS;
Um troféu para Júlio de Castilhos.
Segundo o notável escritor Assis Brasil, Gumercindo é “água lustral para higienizar nossos olhos perante tantas barbaridades escritas por aí”. Na minha visão é uma pequena obra prima, e digo pequena pelo reduzido número de páginas. O autor volta ao personagem histórico e hoje mítico, Gumercindo Saraiva, tema já abordado no excelente “A Cabeça de Gumercindo Saraiva”, ensaio reportagem em parceria com Elmar Bones. O pano de fundo é a Revolução Federalista 1893, identificada pelos historiadores como a mais violenta da história brasileira. Gumercindo, “Napoleão dos Pampas”, nasceu em 1852/1894, filho do combatente farroupilha Francisco Saraiva.
Gumercindo foi morto pelas forças republicanas. A cabeça do líder rebelde devia ser entregue ao Presidente da Província, Júlio de Castilhos[1]. Os filhos do combatente morto perseguem os militares destacados para a ingrata e sigilosa missão. Têm um inquebrantável e humano desejo de dar um sepultamento digno ao pai morto em combate. Chegam a um impasse nas planícies pampianas, ambos os lados pretendem um desfecho honroso. Estilo claro, limpo, cortante, arma branca no estômago do leitor. Em jogo valores fundamentais; o cumprimento do dever, da missão pelas forças militares, da ordem recebida. Pelos familiares o respeito aos despojos do pai. A obra nos faz refletir sobre a relevância desses valores. Ao fim, a surpresa: a autoridade provincial quer é distância da macabra encomenda. Além do estilo primoroso, nos faz cultivar a identidade pampiana em meio a conflitos humanos universais. Do mesmo autor “Os Varões Assinalados”, “Perseguição e Cerco a Juvêncio Gutierres”, “A Região Submersa”, “A Cabeça de Gumercindo Saraiva”. Imperdível.
[1] Freitas, Décio. “O Homem que Inventou a Ditadura no Brasil”, no mesmo período histórico. Primeiro governo republicano no Rio Grande do Sul. Apolinário Porto Alegre, intelectual gaúcho, classificou Júlio de Castilhos como bárbaro togado. Degola anônima como política pública. Evidencia a prática da violência para ganhar eleições.
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