CATÁSTROFE¹ 
Ficha Técnica:
Autor: Max Hastings.
Tradução: Berilo Vargas
Título Original: Catastrophe: Europe Goes to War 1914;
Ed. Intrínseca, 2014, 1ª Edição, Rio de Janeiro.
História, Século XX, A Grande Guerra, 1ª Guerra Mundial, 191400

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Ficha técnica:
Autora: Margaret Macmillan
Tradução: Gleuber Vieira
Titulo Original: The War That Ended Peace
Editora Globo, 1ª Ed. 2014, São Paulo.
História, Século XX, 1ª Guerra Mundial, 1914.

Existem diversas investigações históricas sobre a 2ª Guerra Mundial, mas nem tantas sobre a 1ª Guerra. Por ocasião do centenário do conflito, os historiadores se dedicaram ao tema. Tendo em vista a pertinência temática, os livros foram lidos em sequência e são resenhados em conjunto.

Antes de tudo, vamos lembrar-nos de uma leitura obrigatória durante o 2º grau, Trata-se da obra prima de Erich Maria Remarque, “Im Westen Nichts Neues”, ou “Nada de Novo no Front”, um clássico antibelicista fundamental. Se não leu, inclua em seus projetos de leituras urgente. Remarque foi combatente aos 18 anos, ferido três vezes, Perseguindo durante o regime nazista pela obra, teve o livro entre os queimados no episódio da “queima de livros”, na Bebel Platz, Berlim, em 10 de maio de 1933.

Vamos aos atuais;

Max Hastings, britânico, historiador militar, jornalista, participou da cobertura da Guerra do Vietnã e das Ilhas Falklands / Malvinas. Editor, tem publicado no Brasil Inferno – O mundo em Guerra 1939/0945. Pelo conjunto da obra recebeu o título de Cavaleiro da Ordem do Império Britânico.

Margareth MacMillan é canadense, historiadora e professora da universidade Oxford, conta entre os seus ascendentes, com políticos, dentre eles o Primeiro Ministro David Lloyd George. Continua na cátedra e tem publicados no Brasil “Usos e Abusos da História”, que é excelente, pela Record, e “Paz em Paris”, 1905, pela Nova Fronteira.

Max Hastings centra-se especialmente em aspectos da realidade militar, planos preparatórios, estratégias, movimentação das tropas e táticas de combate. Analisa as decisões tomadas pelos líderes políticos. Apresenta uma cronologia dos acontecimentos que são facilitadores para a compreensão. Na apresentação, o livro contém 32 páginas de fotos, com interessante contracapa idílica da época e, na quarta capa uma foto após a primeira batalha em Ypres, em outubro de 1914. Uma coleção de mapas. No capítulo “A descida para a guerra”, oferece um vivo painel dos aspectos políticos e sociais da época. Os aparelhos estatais de guerra ganham destaque e descreve-se o movimento das forças em combate, com muito realismo. Há uma certa dificuldade para os leitores leigos dominarem o jargão castrense. Interessantes aspectos sobre a batalha no mar, onde britânicos dominavam até o surgimento dos U-Boats ser tornarem uma terrível ameaça. Surpreende com revelações sobre a falta de transparência e péssima comunicação entre o alto comando e os combatentes, esta observação de Lennoy sobre o sigilo que mantinha os oficiais ignorantes dos planos e intenções do quartel-general. Um capítulo bastante interessante, “O magnífico espetáculo do mundo explodindo em chamas” sobre o início da mobilização, e noticiários jornalísticos e a “fome por informações”. Hastings toma posição identificando os culpados pelo conflito, na sua ótica “a mais importante causa primária da Primeira Guerra Mundial, foi a decisão alemã de apoiar uma invasão austríaca na Sérvia. Berlin a desejava por supor que poderia vencer”.

Justifica o conflito, pois, “a vitória dos aliados foi fundamental para a preservação da liberdade no continente.

Margaret Macmillan, valendo-se de consistente pesquisa e farta documentação, procura explicar e entender os motivos do trágico conflito que quebrou a paz na Europa. Introduz um dos capítulos com uma reflexão: “guerra não é um acidente, é um resultado. Há que olhar para trás o mais possível e perguntar: de que?”. Obra ilustrada com documentação fotográfica e mapas das frentes de batalha. No primeiro capítulo um cuidadoso apanhado da época, Europa em 1900. Destaque para inauguração da Exposição Universal de Paris. Da Segunda Olimpíada da era moderna. Vê as sociedades prósperas e organizadas. A Inglaterra em “esplêndido isolamento”. Traça o perfil das cabeças coroadas dos impérios que entrariam em conflito. Lembra da Weltpolitik alemã, após a unificação do final do século anterior. O capítulo “em que pensavam” garimpou esperanças, temores e idéias que circulavam no cenário europeu, na cabeça de pessoas do povo. O episódio Dreyfus que foi reincorporado ao exército e combateu na 1ª Guerra e morreu em 1935. Uma relação que justificou em “Sonhando com a Paz”, onde é contada a história de Bertha Kinski von Suttner, que foi secretária e parceira de Alfred Nobel, o magnata da fábrica de explosivos, convertido em militante pela Paz, deixou parte de sua fortuna para financiar o Prêmio Nobel da Paz. Traça inquietantes paralelos com os dias atuais. No Assassínio em Sarajevo, relata a temerária visita ao Arquiduque Franz Ferdinand a Sarajevo. Os serviços secretos desrecomendaram e advertiram sobre os perigos da empreitada. A autora é mais moderada e não aponta culpados: Talvez o máximo que possamos almejar seja compreender, tanto quando possível aqueles indivíduos que tiveram que fazer opção entre guerra e paz.

E por isso precisamos também entende o seu mundo. Não justifica o poção pela guerra. Arremata que escolhas sempre há e a acusação que à distância de um século pode ser sustentada é a falta de percepção do quanto o conflito seria destrutivo e a falta de coragem para se impor aos que afirmavam que não havia outras escolhas.

Leitura valiosas, interessantes e perturbadoras, ainda hoje.

 

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