Revista AJUFERGS N.º 03
Palavra da Diretoria
Há severas controvérsias entre pensadores culturais a propósito do ingresso da humanidade na era conhecida por pós-modernismo.
Superado o embate ideológico-político, protagonizado por então duas reconhecidas potências estatais e respectivos sequazes, cujo recrudescimento sucedeu ao final da Segunda Grande Guerra, ingressou-se em período histórico no qual, desvanecidas as utopias, colidem-se a idéia de defesa do ser humano com o intransigente amparo de valores econômico-liberais.
Contemporâneo à situação ora vivenciada, apresenta-se o implacável progresso tecnológico o qual, particularmente na área da informação, tem dissipado conceitos que demandaram séculos de elaboração. Dessa realidade não pode furtar-se o julgador. Enquanto agente político incumbido da solução de conflitos sociais, é seu dever coligir do ordenamento jurídico soluções que terminam por se filiar a uma ou outra noção axiológica. Mais do que isso, tem a missão constitucional de investigar a possibilidade de compatibilizar essas mesmas noções.
Decerto que inúmeros aparatos tecnológicos têm auxiliado na prestação jurisdicional. Não obstante, essa disponibilidade inspira precauções. Recomenda-se não olvidar que esses instrumentos é que prestam assistência. Na orquestra processual, atuam como meros executores sob a batuta dos juízes. Acaso desrespeitada essa hierarquia, serão os magistrados erigidos à condição de meros figurantes, até o momento em que possam ser substituíveis ou dispensáveis, em inequívoco prejuízo aos direitos e garantias fundamentais.
Obviamente que, no contexto apresentado, a tarefa está longe de qualificar- se como singela, especialmente agravada pela constatação de parcial imprestabilidade do modelo positivista.
Daí a importância de refletir sobre o Direito e a função da magistratura. Enquanto seus aplicadores, nós juízes não podemos permanecer alheios à realidade circunstante e, tal qual meros autômatos, cogitar soluções obtidas de dogmatismos já há muito superados.
Não há outro caminho senão pensar o fenômeno jurídico.
Editorial
A Associação dos Juízes Federais do Rio Grande do Sul - AJUFERGS tem o grato aprazimento de disponibilizar à comunidade jurídica o terceiro volume de sua Revista.
Em virtude da proficiência dos trabalhos apresentados, é indubitável que a publicação ingressa, definitivamente, no seleto rol de publicações científicas que ensejam ponderadas reflexões sobre o fenômeno jurídico.
Sem embargo, o contentamento decorre não apenas da qualidade do conteúdo da Revista, mas especialmente do fato de a maioria dos trabalhos publicados serem escritos por Magistrados pertencentes ou oriundos do quadro do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região.
Possibilita-se, assim, ao operador e ao acadêmico, no contexto de extremada especialização das áreas do Direito, conhecer o pensamento de parte dos julgadores federais com atuação no Rio Grande do Sul.
O presente volume inaugura a inscrição de trabalhos doutrinários estrangeiros com a publicação do prestigioso ensaio do eminente Professor Titular Catedrático e Diretor do Instituto de Derecho Internacional Privado de la Facultad de Derecho de la Universidad de la República do Uruguai, Dr. Eduardo Tellechea Bergman.
Também foi prestigiado o terceiro número da Revista com ensaios do eminente Ministro do Superior Tribunal de Justiça Teori Albino Zavascki e dos Desembargadores Federais Vilson Darós e Vladimir Passos de Freitas, o qual, embora afastado da atividade por merecida aposentadoria, após anos de intensa dedicação à magistratura federal, permanece como exemplo de caráter, dinamismo e erudição para inúmeros magistrados.
Igualmente conta o volume com artigos dos insignes colegas - alguns doutrinadores já consagrados, outros trilhando idêntico caminho - José Paulo Baltazar Júnior, Daniel Machado da Rocha, Marcelo Cardozo Silva, José Antônio Savaris, Paulo Vieira Aveline, Gabriel de J. Tedesco Wedy, Frederico Valdez Pereira e Márcia Vogel Vidal de Oliveira.
Agradecemos aos colaboradores ao mesmo tempo em que esperamos contar, para o próximo volume, com os trabalhos dos colegas que se sintam estimulados a compartilhar seus estudos e experiências profissionais.
Conteúdo
Inexigibilidade de Sentenças Inconstitucionais
A Eficiência na Administração da Justiça
A Justiça Federal e o Acesso à Jurisdição
Algumas reflexões sobre a prova material previdenciária
O Princípio da Boa-Fé Objetiva no Direito Tributário
Limites à Imposição de Sanções administrativas. Multas pecuniárias tributárias.
Da Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF