Ficha Técnica:
Título: “Vozes De Tchernóbil – A História Oral Do Desastre Nuclear”.
Título original: “A Batalha Perdida”
Autora: Svetlana Alexievich, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura 2015.
Tradução: Sônia Branco.
Editora Cia. das Letras, 2016, São Paulo.
Gênero: Não-ficção, sec. XX, desastre nuclear.
Nascida na Ucrânia, Svetlana é jornalista e escritora. A partir da tragédia ocorrida em 26 de abril de 1986, recolheu os testemunhos das pessoas atingidas ou envolvidas de alguma forma no sinistro construindo uma narrativa dramática e envolvente. Naquele dia, 26 de abril, a 01h23, uma série de explosões destruiu o reator atômico e o prédio onde estava instalada a Central Elétrica Atômica de Tchernóbil, situado na fronteira de Belarus (Bielorrússia).
O fato é classificado como a maior catástrofe tecnológica do século XX. Os relatos são tocantes. São vozes de moradores de Pripyat e da Bielorrússia, gente comum do povo, dos socorristas e mulheres de bravos soldados convocados para os primeiros socorros, sem saber exatamente o que estavam enfrentando. Mais de 30 anos após a radiação, ainda é proibida a utilização da área. Svetlana levou 20 anos escrevendo o livro, entrevistando inclusive residentes ilegais, pessoas que por não terem outra alternativa retornaram ao local. Médicos e cientistas também falaram, e há uma entrevista com a autora, onde registra que Tchernóbil é um enigma que ainda tenta decifrar. “Um signo que não sabemos ler”. Destaco, das entrevistas, a de Ludmila, viúva de um bombeiro, a de Eugueni Bróvkin, um professor da Universidade de Gamel “o acontecimento está à margem da cultura. É um trauma de cultura. E a nossa única resposta é o silencio”.
O depoimento de Guerodi Grechevoi, deputado do parlamento Bielorrusso, Vladimir Ivanov, ex-primeiro secretário do Comitê do Partido, “eu sou um homem do meu tempo, não sou criminoso”. “A minha neta tem leucemia”. No apêndice o discurso proferido em 07/12/2015, na “Audiência Sueca”, “não estou sozinho nesta tribuna, estou cercado de vozes, que estão sempre comigo.”
Depois de concluído, o livro não pode ser publicado, como ao início da tragédia, razões de estado impediram que o mundo tomasse conhecimento imediato do sinistro, que era classificado como segredo de estado. A obra em questão ouviu a voz das pessoas, e muitas verdades foram colocadas. Na lição de Dostoievski, a verdade é fragmentada, múltipla, diversa e dispersa pelo mundo, e a humanidade sabe muito mais sobre si mesma do que aquilo que consegue fixar a literatura. A autora nos traz a sabedoria e sofrimento e o amor dos cidadãos atingidos por uma grande tragédia, cujas dimensões ainda não foram bem estabelecidas, cujas conseqüências são seguramente eternas. Leitura obrigatória, é documento e literatura. No Brasil registramos o episódio com o Césio 137 (13.09.1987), em Goiânia. Dois catadores de papel encontraram um aparelho de radioterapia e na ignorância do que se tratava, levaram a cápsula com Cloreto de Césio, 11 pessoas morreram e mais de 1000 foram expostas à radiação.
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