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INFOCULT | Da censura a Motörhead

ATUALIDADES QUE FORAM: CENSURA NA JUSTIÇA FEDERAL

Feliz Ano Novo

Um dos melhores livros já escrito neste país maravilhoso chama-se Feliz Ano Novo do magnífico escritor Rubem Fonseca, que em maio deste ano completará 93 anos. Esta obra foi publicada em 1975 tornando-se um best-seller imediato. Porém, em dezembro de 1976, já na terceira reimpressão, este livro foi inesperadamente proibido pela censura e todos os exemplares postos à venda e em estoque na editora Artenova foram confiscados pela Polícia Federal. O Ministro da Justiça Armando Falcão alegou que o livro “exteriorizava matéria contrária à moral e aos bons costumes”.

O caso foi parar na Justiça Federal, claro.

Toda a celeuma literária e judicial foi detalhada pelo consagrado escritor Deonísio da Silva (aquele que tem uma coluna semanal de etimologia na revista CARAS desde 1993 e já foi professor na UNIJUÍ) no livro “Nos Bastidores da Censura, sexualidade, literatura e repressão pós-64”. Tenho a primeira edição de 1984 da editora Clube do Livro e a segunda de 2010 da editora Amarilys.

Está tudo lá, desde a petição inicial assinada pelo jurista Clóvis Ramalhete, a contestação, e a lamentável sentença do Juiz Federal Bento Gabriel da Costa Fontoura, que em 07/04/1980 julgou IMPROCEDENTE o pedido do escritor Rubem Fonseca. Só em 1989 o TRF decidiu, por dois votos a um, que o Ministro Armando Falcão se equivocara, colocando Rubem Fonseca no panteão dos vitoriosos como Flaubert, Wilde, Lawrence, Joyce, dentre tantos outros.

Contudo, merece destaque o parecer que foi anexado aos autos do processo de autoria do acadêmico Afrânio Coutinho (1911-2000), favorável à liberação do livro. Invocou, para tanto, um genial aforismo de Oscar Wilde: “Não existe livro moral ou imoral; livros são bem escritos ou mal escritos, e é só.” E, ainda, faz uma preciosa assertiva: “Uma das acusações aos livros de Rubem Fonseca é o uso que faz do palavrão. Ora, o palavrão é tão velho como a humanidade.” Tal parecer foi posteriormente publicado em livro: “O erotismo na literatura: o caso Rubem Fonseca”, Cátedra, 1980.

Ou seja, vale muito a pena a leitura do já clássico e imortal livro de Rubem Fonseca, Feliz Ano Novo, e do livro-documento do professor Deonísio da Silva.

Por fim, vale a transcrição de alguns títulos – pelo pitoresco da nomenclatura – de livros que foram censurados no Brasil. A lista completa está no já mencionado livro “Nos Bastidores da Censura”. São eles: Anatomia de uma prostituta de Jhan Robbins, Boca sensual de Paul Ableman, O Castrado de Adelaide Carraro, Cidinha, a incansável de Dr. G. Pop, Copa Mundial do sexo de Camille La Femme, De prostituta a primeira dama de Adelaide Carraro, Devaneios de uma virgem de José Adauto Cardoso, Doze mulheres e um andrógino de Roy Thomas, Elas fazem aquilo da Editora Edrel, Filosofia de alcova ou escola de libertinagem de Marquês de Sade, Há muito não tenho relações com o leitão de Rex Schinder, O Homem, a mulher e a cama de John Wallace, Mein Kampf de Adolf Hitler, O Padre fogoso de Boulange de Brigitte Bijou, Possua-me e depois… de M. Casey, A vida secreta de um homem sensual de Donald E. Westlake, e muito mais.

 Eu Vos Saúdo, Maria

Lançado em 1985, o filme “Eu Vos Saúdo, Maria” do cineasta francês Jean-Luc Godard foi vergonhosamente proibido no Brasil pelo falecido, só que não, Presidente da República José Sarney. O digno Chefe da Nação, acolhendo um resmungo papal (João Paulo II), alegou que tomou a decisão “para assegurar o direito de respeito à fé da maioria da população brasileira.” Matéria jornalística da época, aqui.

O que mais me causa espanto é que o filme “Je Vous Salue, Marie” ou em português, “Eu Vos Saúdo, Maria” tenha sido proibido pelo presidente José Sarney. Logo ele, suposto intelectual, acadêmico de letras brasileiras e pretenso escritor, foi protagonizar uma arbitrariedade destas.

Não foi por acaso que os Paralamas do Sucesso cantaram logo em seguida em 1986: “E a liberdade cai por terra aos pés de um filme de Godard”. A música:

Foi neste clima de acaba ou não acaba a Ditadura que um pessoal em Porto Alegre resolveu se reunir para assistir o dito filme dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS. Como cautela impetram um Habeas Corpus, com o devido pedido de Salvo-Conduto. Risco de ir em cana por assistir um filme! Pode? O processo 0008930015 está catalogado no livro “1967-2017 – Justiça Federal no RS: Memória e Futuro”, organizado pela Justiça Federal de 1º Grau do RS. Consta que o remédio constitucional manejado pelos cinéfilos não foi concedido. E que não existe nos autos informação acerca da exibição ou não do filme.

That’s All Folks, sub censura, é claro!

MÚSICA DA SEMANA I

Depois de visitarmos o rock argentino, vamos ao Uruguai para desfrutar uma maravilhosa banda de rock, Boomerang.

Banda muito inspirada, como se pode ver deste grande sucesso “No me parece mal”:

Versão remix, ótima:

Tem no SPOTIFY.

Bom som!

MÚSICA DA SEMANA II

O vocalista do Motörhead, Lemmy (falecido em dezembro de 2015), antes de ser músico foi roadie do guitarrista Jimi Hendrix. Talvez daí veio tanto talento.

Uma ótima compilação para conhecer a sua grande banda Motörhead é o disco de 1998, “Deaf Forever: The Best os Motörhead”.

Nesse disco tem a minha preferida I Got Mine:

E o melhor disco é, sem dúvida, o primeiro (1977) “On Parole”:

Depois, em 1992 ainda teve um bom disco chamado “March ör Die”, com aquela música Hellraiser, trilha sonora do filme Hellraiser III – Inferno na Terra

O resto é ouvir e gostar.

Para os fãs do Metal, um prato cheio.

Bom barulho!

CITANDO E RECITANDO

Rapaz, com um corpo desse, uma voz dessa, você ainda fica me pedindo musiquinha? Se eu tivesse essa sua estampa, você acha que eu estaria cantando sentado em um banquinho com um copo na minha frente?
(Vinicius de Moraes respondendo ao seu primo – isso mesmo, primo – Sidney Magal)

Nada temos a temer, exceto as palavras.
(Rubem Fonseca, O caso Morel)

De todos os animais selvagens, o homem jovem é o mais difícil de domar.”
(Platão)

– Não preciso de coragem: é de ar que eu preciso.
Ao deitar-se sobre a mesa, inquire ainda:
– Quem me cloroformiza?
O doutor Protásio retruca:
– O Deoclécio.
– Bem, estou tranquilo.
E morre.
(Cena da morte de Júlio de Castilhos, 1860-1903, citada no livro “1922: Sangue na Areia de Copacabana” de Hélio Silva, que foi retirada do livro “Júlio de Castilhos”, de Otelo Rosa, Livraria do Globo, Porto Alegre, 1928, p.325)

Os textos publicados não refletem necessariamente a opinião da AJUFERGS. O blog é um meio de convergência de ideias e está aberto para receber as mais diversas vertentes. As opiniões contidas neste blog são de exclusiva responsabilidade de seus autores.


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Comentário

  1. José Antonio Pinheiro Machado

    Espetaculares os textos! Vale a pena ler. É um olhar culto, sereno, moderno e, ao mesmo tempo, provocador sobre as coisas deste nosso estranho mundo. Parabéns! Não desistam!

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