ATUALIDADES QUE FORAM (CINEMA, AINDA QUE DESORADO)

Tem filme que leva 20 anos para ficar pronto. “Chatô, o Rei do Brasil” foi aquele caos. E não valeu a pena esperar:

Também 20 anos, foi o tempo para encerrar o filme The man who killed Don Quixote (ainda sem nome em português), finalmente exibido no Festival de Cannes deste ano. O filme foi dirigido pelo maravilhoso diretor Terry Gilliam (do grupo de comediantes Monty Python) que já fez O pescador de ilusões (1991), Brazil – O Filme (1985), Os 12 macacos (1995), Medo e Delírio (1998). As causas do atraso foram muitas, como problemas com o ator Johnny Depp, que caiu fora do projeto, inundações no set de filmagens, problemas financeiros, um ator que seria protagonista, John Hurt (Alien, O Homem Elefante, O Expresso da Meia-noite), mas morreu. Tanta desgraça gerou até mesmo um documentário Perdido em La Mancha, mostrando as dificuldades de rodar um filme independente. Aqui, notícias do caos.
Mas agora vai!
Por fim, o melhor de todos: O Outro Lado do Vento. Em um infocult de anos atrás, já tinha saído uma referência a um filme inacabado do diretor de Cidadão Kane, Orson Welles (1915-1985). Foi escrito naquela oportunidade que iria ser lançado em maio de 2015, mês em que se celebra o centenário do nascimento do histórico realizador. O nome do filme é The Other Side of the Wind e se trata da última película em que Orson Welles trabalhou de forma obsessiva durante 15 anos, tendo morrido antes de conseguir terminá-la. A partir de então, muitas foram as disputas entre a família, realizadores, produtores e amantes do cinema pelos mais de mil rolos de negativos que Welles deixou num armazém, nos subúrbios de Paris. O filme conta a história de um diretor tentando finalizar sua obra-prima enquanto entra em atrito com o sistema de Hollywood. Pois é, quanta ironia!
Ou, como disse André Barcinski, o filme é de cunho autobiográfico, com edição frenética e narrativa experimental e diálogos sem sentido. Tudo verdade. Mas é muito bom, até porque quem faz o personagem principal (velho diretor) é John Huston (1906-1987) de O Homem que Queria Ser Rei, A Honra do Poderoso Prizzi, dentre outros. Parece que em determinado momento das filmagens Huston perguntou: “Orson, sobre que diabos é esse filme?” Welles respondeu, enigmático: “É um filme sobre pessoas como você e eu.”
Finalmente algo de interessante na NETFLIX que hoje é quase inútil para cinéfilos. E também nesta mesma plataforma de filmes, após assistir O Outro Lado do Vento, para melhor compreender a história de Orson Welles e seu filme que virou lenda, deve ser visto o documentário Serei Amado Quando Morrer. Excelente.

A TELEVISÃO ME DEIXOU BURRO, MUITO BURRO DEMAIS

Nesta plataforma digital (globosatplay), merece ser visto um programa de 9 episódios chamado “Inventores do Brasil”. O programa mostra como diferentes personagens ajudaram a construir o Brasil. Na série, Fernando Henrique Cardoso perfila grandes nomes da história do país. A direção é de Bruno Barreto e roteiro de FHC e Elio Gaspari. Os melhores, para mim, são os episódios sobre o Tenentismo e Getúlio Vargas e sobre os Empreendedores, este último contando a história de grandes empresários brasileiros, como Francisco Matarazzo:

Ainda, outro programa de TV que agora pode ser visto no YOUTUBE merece uma referência, pois muito interessante. Ainda mais para quem já leu o livro “Crime e Castigo” de 1866 de Fiódor Dostoiévski (1821-1881). Ou para quem não leu, vale a pena do mesmo modo. No programa “Café Filosófico”, o Professor Flávio Ricardo Vassoler:

THE BOOK IS ON THE TABLE: A LUA VEM DA ÁSIA DE CAMPOS DE CARVALHO

Muito badalado ultimamente nos jornais especializados, Campos de Carvalho terá sua obra reeditada pela editora Autêntica.
“Aos 16 anos matei meu professor de lógica. Invocando a legítima defesa – e qual defesa seria mais legítima? – logrei ser absolvido por cinco votos a dois, e fui morar sob uma ponte do Sena, embora nunca tenha estado em Paris.” Assim começa A Lua Vem da Ásia (1956), do escritor surrealista brasileiro Walter Campos de Carvalho (1916-1998).
Grande escritor que nas entrevistas nunca deixava claro se estava falando sério ou brincando.
Tudo sobre ele, aqui.
Aqui também.

MÚSICA DA SEMANA 

Assim como Morrisey, antigo líder do icônico grupo The Smiths, quem vai estar em São Paulo daqui alguns dias é Herbie Hancock, a lenda do Jazz. Este pianista tocou com Miles Davis nos anos 60 e sua discografia inclui discos voltados para o Jazz assim como algumas incursões pelo Fusion, Funk e Música Clássica. Uma amostra deste músico de 78 anos:

Ele aparece num novo documentário deste ano que está na NETFLIX sobre a super lenda Quincy Jones: QUINCY. Este documentário é obrigatório. Só vou dizer que Q. Jones é um dos 18 ganhadores do E.G.O.T. (EMMY, GRAMMY, OSCAR e TONY) e produziu os dois maiores discos da história da música POP do cantor Michael Jackson: Off The Wall (1979) e Thriller (1982). O resto está no documentário.
Então, música da semana, do disco Off The Wall, aquela música que no Brasil ficou conhecida como abertura do Vídeo Show:

Baita som!

CITANDO E RECITANDO

 SABEDORIA

O sábio não é sábio verdadeiro
Se à visão interior cerrar os olhos.
Sábio é seguir o coração. Sem mapa,
Colombo achou um mundo entre os abrolhos.
(George Santayana, 1863-1952 traduzido por CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

TRAIÇÃ

Primeiro foram meus próprios sapatos
que avançaram na frente
de meus pés.
Em seguida, minhas próprias luvas
que por sua vez puseram luvas
para esbofetear-me
E finalmente, meu próprio chapéu
que se tirou
para cumprimentar-me.
(André Verdet, 1913-2004 traduzido por CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

Deus fez tudo a partir do nada, às vezes o nada ainda aparece no meio do que ele fez.”
(Paul Valéry, 1871-1945)

 “HUMILDADE
Tanto que fazer!
livros que não se leem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.
Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis…
até o fim do mundo assinando papéis.
E os pássaros detrás de grades de chuva.
E os mortos em redoma de cânfora.
 (E uma canção tão bela!)
Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos,
nem para quê.”
(Cecília Meireles)

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